quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Mulher Camaleoa

Recentemente estive relendo a Jornada do Escritor de Christopher Vogler, um clássico da estrutura narrativa cinematográfica. Curiosamente, ouvindo os relatos amorosos de alguns amigos, pude perceber que o livro além de uma análise dos principais arquétipos utilizados no campo fílmico, também aborda aspectos femininos de boa parte das mulheres pós-modernas relatadas em nossas conversas. Estou falando do arquétipo descrito por Vogler como Camaleão. Segundo o escritor, "...é comum que se tenha dificuldade em captar o arquétipo fugidio do Camaleão, talvez porque é de sua própria natureza estar mudando e ser instável. Sua aparência e características mudam assim que é examinado de perto. Entretanto, trata-se de um poderoso arquétipo. Entender seu funcionamento pode ser muito útil — tanto na narrativa como na vida." Acredito que ao ler essa citação, uma boa parte do público masculino se identificou em relação a ter se envolvido com algumas mulheres com esse perfil. E como o próprio Christopher comenta, entender esse tipo de atitude volúvel pode ser muito útil, tanto na narrativa como na vida.
Nas estórias, com freqüência os heróis encontram figuras muitas vezes, do sexo oposto cuja principal característica é que parecem estar sempre mudando, do ponto de vista do herói. É comum que o interesse amoroso do herói, ou sua parceira romântica, manifeste as qualidades de um Camaleão. Todos temos experiências de relações nas quais nosso parceiro é dúbio, tem duas caras, ou é espantosamente mutante. A quantidade de mulheres com essas características atualmente é assustadora, e na minha opinião esse tipo de atitude tem uma razão. Graças a liberdade conquistada por elas no mundo contemporâneo, elas sabem cada vez menos o que querem. De um modo geral, o ser humano emite sinais contraditórios no campo do relacionamento. Por um lado, somos gregários e gostamos de viver ao lado de alguém. Por outro, temos dificuldade para fazer concessões. A maioria quando está namorando ou casado, freqüentemente sonha com a liberdade dos que vivem sós. Mas se deprime nas noites de sábado se não tem para quem ligar. As mulheres em geral, na faixa dos 30 anos, o casamento se torna uma "questão" na vida. Mesmo que elas estejam convencidas de que o importante é investir na carreira e não pensar em filhos, a intensa movimentação das amigas fazendo a lista de chá de panela desperta um certo incômodo social. O que as mulheres solteiras estão mudando não é a vontade de encontrar um parceiro. Essa continua. O que desapareceu foi a angústia de arrumar "um novo amor". Não há dúvida de que a liberdade feminina aumentou nos últimos 50 anos. Mas será que a mulher de hoje é mais feliz do que a dos anos 50? Acho que a chance de felicidade não depende apenas do tempo em que se vive, mas também de como a pessoa lida com as opções que se apresentam. Em cada época, a mulher teve que descobrir o seu jeito particular de ser feliz e atualmente acho notório que muitas simplesmente não sabem o que querem. Recentemente conheci uma jovem mulher camaleão, uma daquelas que diz que preza sua liberdade, que não pensa em ter nenhum relacionamento sério. Paradoxalmente, ela, no mesmo dia, disse que analisa os homens na rua, na esperança de que algum deles possa vir a ser o grande amor da sua vida. Esse é o tipo de comportamento de uma mulher que apesar da sua liberdade conquistada décadas atrás, não sabe utilizá-la. Acabam se tornando mulherzinhas que se deixam levar por toda espécie de desejos. Elas estão sempre aprendendo, mas nunca conseguem ter paz e chegar ao conhecimento da verdade.
A mulher camaleoa tem a função dramática de trazer dúvida e suspense à vida daqueles que não as reconhecem. Quando os homens se perguntam: "Será que ela é fiel? Será que vai me trair? Ela me ama de verdade? Ela é minha amiga ou inimiga?" Geralmente há uma mulher camaleão presente. O aspecto fatal não é, porém, essencial nesse arquétipo. As Mulheres Camaleoas podem apenas intrigar e confundir o homem. Trocar de formas faz parte do romance. É comum alguém ser ofuscado pelo amor, ficar cego e incapaz de ver a outra pessoa com clareza, por detrás das inúmeras máscaras usadas.
A pergunta parece óbvia, mas apesar disso, pesquisas demonstram que 95% da população desconhece ou não tem determinado claramente quais são seus objetivos."Vive a vida" sem saber para onde estão indo. Algumas dizem: eu faço idéia de onde quero ir. Muito cuidado com essa armadilha. Nossa mente é monofocal. Se você não construir objetivos definidos com o maior grau de clareza possível, não estará utilizando seu cérebro da forma mais eficaz. Dessa forma as mulheres camaleoas vivem por aí, sem rumo. Como diz o ditado popular, se você não sabe o que procura, não vai saber reconhecer quando encontrar.